É possível ter saúde mental em tempos de crise?

É possível ter saúde mental em tempos de crise?

Não é novidade para ninguém que estamos vivendo em tempos de crise. Crise política, moral, social, institucional e econômica.

Quando perdemos os referenciais, automaticamente perdemos “o chão” e conseqüentemente tememos. O novo quase nunca é encarado pelas pessoas com tranqüilidade; ele assusta, traz insegurança e gera desconforto emocional. É nesse momento que as máscaras caem. Caem porque todo o cenário externo caótico não se encerra ali, vai além, tem desdobramentos no nosso universo interno.

É certo que nem todas as pessoas sofrem com as mudanças (embora traga desconforto), algumas conseguem manter o equilíbrio, readaptando-se as situações impostas e sobrevivendo em tempos turbulentos. Mas a grande maioria sofre de alguma maneira – o sofrimento pode ser subjetivo ou concreto.

Como pensamos na crise.

1 – Numa crise as pessoas pensam em recessão, ou seja, pensam em imobilidade, e em falta de crescimento. Alguns autores dizem que quando uma crise se instala independente da área que aconteça, é porque aquele ciclo se fechou e é necessário que outro se inicie. Porém a tendência é que nosso pensamento e ação fique cristalizado no ciclo que se fecha.

2 – A decadência é outro tipo de pensamento que temos na crise. Somado a falta de crescimento, surge também o medo da ruína, do caos, da perda. Em tempos de crise não é incomum sermos mais cautelosos. Geralmente administramos com mais cuidado, analisamos de forma criteriosa situações ou decisões a serem tomadas, e isso não significa decadência.

3 – A impotência é outro pensamento que nos atormenta. Na crise fica claro que aquilo que dispomos pode ser pouco diante da nossa necessidade. Nesse caso, é preciso “sair da zona de conforto” descobrir nossos limites para vencer os obstáculos. Guillermo Borja disse que:
“Não se pode resolver nada profundo senão pela crise, pois é ela que possui os elementos da cura”.

4 – Tempo: tememos a permanência da crise. Esquecemos que a vida é cíclica, intermitente e alternada.

5 – Dualidade: O pensamento dual se encarrega de criar contradição e conflito na crise. Ele se divide entre reprimir os desejos e sonhos ou continuar desejando e sonhando sem se importar com a situação real vivenciada (nega-se a crise). Mas quando a pessoa identifica o conflito de pensamento, aprende com a crise. Exemplo: ela entende que no momento precisa deixar para depois alguns desejos e sonhos, priorizando necessidades básicas, e com isso a dualidade acaba.

6 – Pensamento negativo: Pessoas que pensam negativamente veem apenas o caos. A forma como o individuo pensa pode cristalizar suas ideias, inibindo toda e qualquer possibilidade de ser criativo. A vida é uma construção e às vezes o material não está tão acessível. No entanto, cabe a nós desenvolver estratégias para dar sequência a essa bela construção.

7 – Solidão: Outro pensamento pertinente na hora da crise é achar que se está sozinho. Essa crença rouba a autoconfiança. Uma família, um grupo, uma comunidade, ou um país é mais forte do que apenas uma pessoa.

Antes de qualquer coisa, as pessoas precisam compreender que esses pensamentos criam instabilidade emocional, desencadeando medo, insegurança, ansiedade, depressão e também o pânico. Os seres humanos evitam situações inesperadas, preferimos a constância e o previsível. Esse tipo de funcionamento mental auxilia a manutenção do equilíbrio interno. Quando a crise se instala ela interfere no equilíbrio, trazendo angústia e fazendo vir à tona experiências ruins fortalecendo os pensamentos negativos. Para que aja saúde mental, a crise deve ser vista como um processo de transformação e de autoconhecimento.

Dicas para manter o equilíbrio interno e romper com o ciclo de pensamento negativo.

1. Reconheça e descubra suas habilidades;

2. Aceite suas falhas, dificuldades e limitações, aprenda com a crise;

3. Inove. Repetir o mesmo padrão, ou o mesmo jeito de fazer as coisas poderá não dar certo, já que o momento e as condições são outras;

4. Aprenda sobre aquilo que precisa trabalhar, mudar ou resolver;

5. Pense em um plano de ação caso aconteça um imprevisto – tenha um plano B;

6. Trabalhe unido, busque aliados e fortaleça seus laços sociais;

7. Seja flexível e resiliente – pessoas resilientes passam pelas dificuldades, sentem seu impacto, mas não quebram;

8. Seja determinado – a determinação é importante para continuidade. Mesmo se algo der errado, reveja os objetivos e se necessário mude o foco;

9. Lembre-se de tudo que já conquistou e seja grato. A gratidão influencia diretamente na saúde mental das pessoas;

10. Faça atividades que promovam o bem estar. Elas facilitam a criatividade.